segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Voando alto

Poderia escrever sobre surfe. Poderia escrever sobre a praia. Poderia escrever sobre como a Austrália me trouxe pessoas incríveis, ou sobre como eu as perdi para o mundo. Poderia escrever sobre como o trabalho de cleaner era cansativo, ou poderia lembrar como era divertido. Poderia escrever sobre amizade, amor e música, ou poderia escrever sobre crescimento. Crescimento equivalente ao de uma vida. Poderia escrever sobre o quanto eu estou longe deles, ou sobre o quanto estou perto. Poderia dizer que a vida é perfeita e que eu tenho tudo o que sempre quis guardado na bagagem, ou poderia contar o quanto me sacrifiquei para alcançar todas as minhas metas. Tudo se baseia em uma vida. Uma história por trás de uma vida. E como a vida é bela... Ou pode ser. Tudo se baseia em virtudes. Virtudes que abrem asas. Uma história que se cria de coragem, confiança e tranqüilidade. Voar é lindo. E quando se voa, não precisa abrir portas. Que sensação boa. Mas voar cansa. 


Nao espere ler sobre um show amador de violão nas ruas. Estive muito tempo sem escrever e muitas coisas mudaram. 
Meu novo trabalho nao era tão legal quanto o primeiro, mas muito mais lucrativo. O suficiente para me alimentar, morar e beber uma caixa de cerveja, é claro. Na escola St Ignatius, em Riverview, os faxineiros se dividem em grupos em cada prédio. A dupla Therry/O'Neil foi o meu destino. Meu primeiro dia de trabalho não foi apenas o dia em que eu comecei a aprender a fazer faxina na escola, mas o dia em que eu comecei a aprender a fazer faxina. Tínhamos 4 horas e 45 minutos para terminar os dois prédios de 3 andares todos os dias da semana. A rapidez era requisito fundamental. Mas será que eu esqueci alguma coisa? Ahh... Pensa depois!
O começo foi assim. Dor nas costas, calos nas mãos e pés, dor de cabeça... Dormir de 3 a 4 horas por dia era o de menos. Quando o serviço acabava, às 20 e 45, finalmente podíamos ir para casa. Mais precisamente, podíamos subir uma lomba enorme bem rápido pra dar tempo de pegar o ônibus de uns 40, 50 minutos até Town Hall, na city, onde pegávamos um trem de uns 20 minutos até Rockdale. Chegando em casa, a mãe não estava nos esperando com strogonoff e o pessoal que morava lá parecia, muitas vezes, ter tido um dia mais estressante que o nosso. Finalmente, abriamos uma garrafa de cerveja pela liberdade. No outro dia, era acordar cedo, pegar dois trens e ir pra aula. 

Tenho que dizer aqui que, na escola, quanto a sujeira, encontrei de tudo... Desde frango na patente, até sangue na pia, o que era muito comum, já que os caras jogam Rugby, o esporte mais violento de todos, o tempo todo. Mas jamais encontrei algo tão original quanto "feijões selvagens" no ventilador... 
João Gabriel, Felipe Bona, Renan, João Pedro, Bolha e todos os que estavam presentes nesse dia memorável, meu orgulho por vocês é indescritível. Abraço a todos!

Em resumo, durante a semana, a vida era bem limitada. Mas todo o sábado, quando despertava, trazia o paraíso. O trem, dessa vez, era pra Cronulla. O almoço, peixe e batata frita na frente da praia. Depois de dar um tempinho, caía no mar. E lá ficava até cansar. Ou até anoitecer. E assim fui seguindo essa rotina "no pain, no gain.". 

Todo o sacrifício era em prol do surfe. O tempo livre era curto e deveria ser usado da melhor forma possivel. Nao queria saber de mais nada. Aniversários, festas ou churrascos estavam fora dos meus planos. Poucos amigos eu encontrava fora da escola e menos ainda no facebook ou skype.

Ninguém consegue ficar longe dos amigos, mas existe algo ainda mais bonito que amizade. Algo que, creio eu, ainda nao recebeu nenhuma definição falada ou escrita. Quando nos escondemos de tudo e de todos, nos achar é praticamente impossível, mas alguns acham. E esses serão sempre pessoas extraordinárias. Pessoas que nos entendem. E essas pessoas me mantiveram corajoso, confiante e tranquilo. Pessoas que nunca pensaram em me mudar, mas sim em me acompanhar às suas maneiras. E é quando se tem uma mistura de ritmos, que fluem as mais belas e originais melodias. 
A parte mais difícil de viajar para um país distante é conhecer pessoas incríveis e saber que dificilmente as verá de novo quando voltar para o Brasil. O que recebemos nao é a amizade ou o amor eterno que tanto idealizamos. Ganhamos aprendizado, enriquecemos, de forma que não pensamos em mudar por uma causa maior. Acreditamos em nós mesmos e confirmamos que todos aqueles que nos julgaram loucos estavam errados.

O engraçado é que no Brasil, quando estava na praia, nao costumava ficar no mar tanto tempo quanto fico aqui. O surfe fazia parte do meu lado relaxado e despreocupado, em estado de meditação. Aqui, surfar é parte do meu cotidiano e sempre condiz com o meu estado emocional naquele momento único em que finalmente posso cair no mar. Posso estar agressivo, inquieto e faminto, ou pensativo, receoso e incerto. No final, de qualquer forma, estarei realizado e de cabeça feita.
E aí, voltamos à mais um desafio no trabalho. Dessa vez, nossa "team leader" estava de saída. Eu não acreditava muito que isso um dia aconteceria, mas eu passei a ser o líder da equipe, relatando no radio e ouvindo as broncas. Em todos os momentos, levei aquilo do meu jeito. Tentei trazer coisas simples que as pessoas reprimem para o ambiente dos dois prédios. 
Um dia nossos chefes disseram que team leader tinha que ter cobrança. Se alguém esqueceu alguma coisa, tem que mandar voltar lá e fazer de novo, para que nao esqueçam mais. Aí percebi que é muito mais fácil passar despercebida uma tampa de caneta no cantinho de uma sala aos olhos de quem ta recolhendo os lixos do chão e tem que ser rápido, do que para quem está trabalhando com um aspirador de pó e fica mais tempo na sala. Disse a eles que se vissem algo esquecido, chutassem para a porta da sala. Quando o cara que recolhe o lixo estivesse varrendo o corredor, iria ver todas as coisas que esqueceu na porta de cada sala. 
Lembrei também que quando eu estava nos primeiros dias, eu, ou meu team leader, esquecíamos algumas coisas que tinham que ser feitas. Para isso, escrevi um esquema com o que cada um deveria fazer a cada dia. Simples assim, nao tive muito trabalho a mais, nao esquecíamos nada e nos organizávamos no tempo. Além disso, eu nao precisava ficar enchendo o saco deles lembrando as coisas, nem eles me perguntando. É muito fácil não ser uma pessoa chata e atucanada. Mostrando respeito, se ganha respeito. E trabalhando com respeito, tudo funciona melhor. Nesse período, tive grandes amigos do meu lado e aprendi muito com eles.


Porém, tudo tem o seu limite e o meu estava para se esgotar. Estava cansado, mas nao cansado de trabalhar. Cansado da rotina e da zona de conforto. Tive o desafio de aprender a limpar alguma coisa, de ser rápido e de ser extremamente organizado fazendo aquilo, mas, depois, nada mais mudava. Acreditei que eu seria capaz de encontrar um novo trabalho e um novo desafio. Muito provavelmente mais lucrativo. Deixei o trabalho à duas semanas de acabar o curso, me presenteando com uns dias de tardes mais livres nos quais eu poderia me organizar, pensar muito sobre tudo, muitos fatos, ainda nem pude compreender direito, me dedicar a reta final do curso de inglês, surfar um pouco, é claro, e tentar encontrar um novo trabalho em Manly, para depois do curso. Isso mesmo, Manly. Agora a gente mora na praia. Em um hotelzinho rodeado de palmeiras, à uma quadra do mar.

Minha primeira noite, após a mudança, foi regada a vinho, cerveja, maresia, flores e muita música com violão e gaita. Ficamos horas nas pedras cantando e rindo. Costurando um sorriso no rosto que não sai mais. Agora sim... Tomar café na frente da praia, comer na frente da praia, ir pra aula de barco... E olha que eu ainda nem surfei. O mar tá parado que nem Bombinhas e, pra completar, quarta, enquanto corria para pegar o barco,de manhã cedo, caí um baita tombo de patinete e machuquei o quadril. Agora, tenho que esclarecer também que patinetes são mais comuns aqui na Austrália e que não, eu nao decidi comprar, eu encontrei o meu no lixo... 
Se o destino me deu, nao tenho como recusar. O melhor é que ele acertou. Com o patinete, eu podia até ir para o trabalho pegando um ônibus bem mais rápido e almoçando por lá, que é um lugar muito bonito. Depois, descia uma lomba cheia de árvores praticamente só usando o freio. Às vezes, eu ria quando enxergava meu reflexo de patinete e mochila na vitrine de alguma loja.
O tombo foi bem feio. Eu estava indo muito rápido e o piso estava molhado. Umas criancinhas atravessaram a rua correndo com o pai banana atrás e entraram na minha frente. Eu tive que virar e frear. O patinete deslizou e eu caí de lado no chão. No dia, me caguei achando que tinha me quebrado e me arrependi de nao ter atropelado as crianças (brincadeira), já que o paizão delas nem teve a decência de perguntar se eu tava bem, mas agora já me sinto muito melhor.
Ontem, passei o fim de tarde sozinho nas pedras tocando uma viola. Toquei quase todas as músicas que eu já fiz e pensei muito sobre cada uma. É engraçado como a nossa cabeça pensava quando estávamos no colégio, tudo o que idealizávamos. Normalmente, o que eu escrevia nessa época falava sobre a praia ou ingênuas experiências de amor e de vida. Depois saíram algumas sobre desde abelhas na minha coca-cola, até as constelações da noite. Escrevo sobre o que me dá na cabeça, sobre o que me passa. 
Sempre penso, nessas horas, sobre como eu mesmo, no passado, me sentiria em relação as coisas que eu tenho feito. Se a resposta for realizado, sei que alcancei meus objetivos e que estou no caminho certo. Ironicamente, na primeira sala que eu costumava limpar, no trabalho, o professor Mr. Story colou na parede uma pergunta para a reflexão pessoal dos alunos: "uma versao mais nova minha sentiria orgulho de mim hoje?" Nem passa pela cabeça dele, acredito eu, que seus pensamentos coincidem com os do faxineiro da escola, o qual só fala bom dia, com licença e remotas histórias sobre futebol.

As vezes, nos flagramos vivendo um mundo paralelo, dentro da nossa cabeca. E se tivéssemos decidido ficar? Talvez, estivéssemos trabalhando na nossa área e enriquecendo algum currículo ou portfólio. Talvez, estivéssemos dormindo ao lado de quem amamos e declarando nosso amor todas as noites antes que o sono nos ataque. Talvez, estivéssemos inflando peitos de orgulho. Ou talvez não... Quando fugimos pra longe, se cria um mundo paralelo na nossa cabeca, o mundo do "talvez". Ele nos mostra tudo de mais perfeito que nos poderia ser idealizado no passado. "Idealismo"...? "Perfeicao"...? Para mim isso so me remete a uma coisa... "Padroes". 


Tenho certeza que se eu pudesse imaginar que viveria tudo que eu vivi na Austrália, no momento em que escrevia o primeiro texto desse blog, choraria de orgulho. Do que viver no mundo do "talvez", prefiro me aventurar na "terra" onde a resposta é "nunca"/.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Are you gonna play?

Cada vez me sinto mais eu mesmo. Sentimentos que, poucas vezes, tive a oportunidade de sentir antes. Cada vez me sinto mais longe de Porto Alegre, mas cada vez me sinto mais perto de onde eu vim. Não venho de um lugar exato. Venho de uma família abençoada, de amigos gigantes, de experiências insanas e de corações iluminados. De braços que me estrangularam com força e mãos que me levantaram vôo. Tudo isso é o que eu chamo de educação. E aí não excluo do meu vocabulário nenhum palavrão, nem da minha cabeça nenhum ideal negativo. Desprezo a fala e, constantemente, preciso tirar minhas férias de conviver com pessoas. Mas o que se pode fazer de tão especial quando se está sozinho? Milhares de coisas, muito mais do que débeis mentais escolhem chamar de tristeza, ou algo tipo "forever alone".

Sempre que escrevo aqui, acabei de passar por alguma coisa que me deixou maluco. Ou, na verdade, uma série de fatos que me deixaram maluco. E, dessa vez, um deles foi uma preciosa experiência que eu escolhi transformar em rotina. Tudo começou quando eu voltava de ônibus do Cargo Bar, noite em Darling Harbor, na beira do rio. O problema das noites daqui é que a gente sempre tem que caminhar pra caralho e pegar um bus cheio de gente gritando pra caralho. Aquela cena clássica de gurias sentadas e caras tentando impressionar com um jogo manjado e besta. Nesse dia, meti meus fones nos ouvidos e coloquei um NOFX bem alto, pra deixar minha mente fugir dali. "where are all these stupid people from? And how they'd get to be so dumb?" Entendo perfeitamente... Na minha cabeça: "puta que pariu ainda não arranjei um trabalho." E foi aí que me dei conta... Aqui tem músicos de rua por toda a parte e eu sei tocar alguma coisa. Quando uma coisa entra na minha cabeça ela nao sai mais.
No outro dia, de manhã, depois de poucas horas de sono, peguei minha viola e saí com meus fones de ouvido pra procurar um lugar que eu pudesse começar minha carreira de mendigo. Muito nervoso, inseguro e sozinho caminhei pelas ruas de Rockdale, até que um senhor me chamou.
"Are you gonna play?" perguntou observando minha viola.
"Sim! Quero tentar fazer algum dinheiro, mas nao sei exatamente aonde vou parar" respondi.
Ele perguntou se eu sabia alguma coisa do Jason Mraz. Eu disse que não gosto muito, mas toco alguns artistas semelhantes como Jack Johnson, John Mayer, Pete Murray... Ele disse:
"Então toca um Jack Johnson. Eu sou alguém na rua e, se tu tocar bem, te dou um dinheiro." Comecei a tocar No Other Way e quando eu vi ele estava cantando junto, fazendo uma espécie de backing vocal... Foi uma das vezes mais doidas que eu já toquei.
Enquanto eu tocava, um outro amigo dele chegou e ficou todo pilhado ouvindo. Os dois juntaram algumas moedas e largaram no meu bolso. Eu nem quis olhar quanto era e, na hora, não soube porque. Ele me disse onde eu deveria ficar e completou: "Não fique nervoso... Tu não acabou de fazer isso agora? Então tu é capaz de fazer de novo." E essas palavras me moveram nas ultimas semanas.

Em momento algum, parei pra conferir o dinheiro que tinha ganhado. Isso eu só faço em casa. É claro que eu preciso do dinheiro... Mas passar uma hora e alguns minutos sentado na rua fazendo o que eu mais gosto e ainda recebendo sorrisos e olhares de todo o tipo de gente, ouvindo comentários totalmente significativos é completamente impagável. Mas é um trabalho inacreditavelmente pago. Hoje, das 5 e 20 às 7 e 30, bati o meu recorde. Recebi 50,05 dólares... Meu coração tá mole como uma batata assada, mas não pelo dinheiro.
Hoje, saí muito irritado. Irritado por causa daquela velha questão que martela minha cabeça há anos. É impossível me levar a sério. Porque eu sou um vagabundo que não trabalha só pra ir atrás do que gosta. Porque eu sou um grosso, mal educado e machista, mas jamais deixei quem eu amo se enfraquecer na minha frente. E porque eu estive vendo cada vez mais minha outra vida se dissolvendo no ar. Caminhos que eu percorreria incansavelmente sendo percorridos sem a minha presença. Foi a primeira vez que eu comecei a sentir na viagem o sentimento da perda evitável, mas intocável. Nada posso fazer pra manter amizades, ir ao estádio apoiar meu time ou fortalecer qualquer laço que eu dei valor. Mas, por outro lado, sinto minha família e meus mais fiéis amigos do meu lado. E esses crescem mais ainda no meu coração. Não deixam que eu me sinta fraco e, pelo contrário, criam em mim a força de duas vidas. É tudo minha força de vontade somada ao "bá! Vou ter que contar pra eles". E aí, mais uma vez, me sinto bem acompanhado sozinho, o que é muito melhor que se sentir sozinho bem acompanhado.

Meu porquinho do Toy Story, que a Carol me trouxe da Europa, está recheado de sorrisos em forma de moedas. Meu boné da etapa de Bells Beach do WCT se tornou mágico. Meu uniforme? Calça de moletom, o velho moletom do pai e camisa xadrez por cima. Não muito diferente das roupas que eu me considero bem vestido pra sair em Porto Alegre. E minha mente está cada vez mais infinitamente cheia, mas nunca pesada. Fluindo tudo o que eu ouvi das pessoas na rua.
Hoje, uma hora que parei pra tomar uma água, um cara chegou e perguntou o que eu tava tocando. Eu disse que várias coisas e ri. Ele reclamou um pouco do frio e eu disse que pra mim não era problema, pois na minha cidade era mais frio que aqui, "I'm addicted". Fiquei conversando com ele até que ele disse "I'm waiting for my boyfriend". Ele começou a rir por causa da minha cara. Eu acabei rindo também. Voltei a tocar, pois tinha gente vindo. Mas porra... Porque eu fui tocar uma música romântica do John Mayer logo nessa hora? Depois que eu terminei comecei a tocar na gaita um blues. Quando terminei, vi um dos caras que me deram moeda maluco ouvindo: "Maan... It was really great!" Eu ri e agradeci. Em seguida, quando o lugar esvaziou, o cara anterior voltou. Pensei que o ele era legal e tinha gostado de me ver tocar. Ele disse:  "Meu Deus! Você é multi talentoso..." eu ri e agradeci. Até que ele passou dos limites: "Tu não tem algum... Amigo... Pra me apresentar?" Eu disse "Sorry... I don't have." E ele foi embora. Estranho...
Antes disso, nesse domingo, já estava com minha cabeça atucanada pelos mesmos motivos. Tava chovendo, frio e no coastalwatch.com o mar tava todo mexido e fraco. E é claro que eu fui surfar. O Rodrigo, cansado da primeira semana de trabalho na cozinha do bar das coxinhas e despilhado pela previsão das ondas, acabou ficando em casa. Era o meu momento de ficar sozinho. Dessa vez fui bem mais cedo, pra dar mais surfe. No trem, sozinho com o vagão inteiro só pra mim, sentia meu coração bater forte de ansiedade pra chegar na praia. O caminho de meia hora é repleto de paisagens incríveis pra admirar. No outro vagão, duas loirinhas e um cara brincavam e tiravam fotos. Mas o mais importante, ainda era o inicio da tarde.
Ao mesmo tempo que eu chegava em Cronulla, a chuva parava. Não deu outra, enquanto eu entrava no mar, os arco-íris começavam a aparecer, e eu surfei no meio deles. As ondas estavam lisinhas e longas, lá do outro lado da praia, onde a câmera toda pixerizada do coastalwatch não mostrava. Fiquei até anoitecer. Antes de sair, me joguei numas 5 saideiras, nas paredezinhas que rolavam mais pra beira, rindo como uma criança e sozinho na praia. No vestiário, aberto às estrelas, depois de me trocar, rezei. Agradeci à Deus por eu ter essa mente teimosa de outro planeta e ao meu avô por ter realizado meu sonho, por ter me dado tudo que eu sempre quis, por ter me entregado à droga da felicidade...
Depois, já que estava sozinho e sem pressa pra comer, caminhei lentamente pelos bares da beira da praia observando tudo. Em um deles, um cara bom demais fazia um sonzinho ao vivo. Fiquei ali ouvindo, do lado de fora, pois o bar é ultra caro. Ao som de covers acústicos de It aint over till its over, do Lenny Kravitz e Highway to hell, do AC/DC, entre outros, contemplei o memorial das garotas australianas que morreram em Bali no atentado terrorista em 2002, que eu já tinha passado mil vezes na frente e nunca tinha parado pra olhar.
Quando estava esperando em frente a faixa de segurança o sinal fechar para eu ir comer, o cara tocava Sunday Morning do Maroon 5. Um véio meio bêbado começou a resmungar do meu lado reclamando da música, toda moderninha e tal. Eu ri bastante e disse "Stop, man... He's playing well."

Já em casa, contei tudo para o japonês que mora agora aqui com a gente e que seguido passa quando eu to tocando e tira umas fotos. Ele é engraçado e curte quando eu toco um 311 na viola. Sempre ri de tudo, como desse vídeo, por exemplo:

Depois de tudo isso, deitei pra dormir com as palavras de um verdadeiro gênio na cabeça. Humildemente, e tambem para treinar meu ingles, tentei traduzir. Essa lição de vida é do documentario September Sessions, produzido pelo Jack Johnson. O filme acompanha uma viagem do Kelly Slater e uns outros caras na Indonésia. É uma honra pra mim me identificar com palavras de tamanho gênio, que encerram o filme...
Às vezes, temos a chance de estar sozinhos mas não podemos... Você não percebe o quanto fica distraído quando está cercado de gente. Fica difícil de realmente aproveitar tudo. 
Mas, chega uma hora, que você vai nessa viagem, com a mente pronta pra ir pra longe de todo mundo, apenas surfando por você mesmo. É bom chegar a esse ponto... Sabe, apenas estar na água e aproveitar tudo em volta. Ficar sentado na água observando tudo em volta. Sentir a temperatura da água, a sua cor.  Observar as aves voando, ou mesmo apenas a direção do vento. A maneira que você sente o vento, se está muito quente, é refrescante. Sabe, todas essas coisas vindo juntas... Se a sua mente se distrai com mais alguém, você não tem a chance de aproveitar tudo isso. 
Eu lembro que estive tão de cabeça limpa o tempo todo... E realmente disponível pra aproveitar tudo isso.

Kelly Slater 

terça-feira, 1 de maio de 2012

A dois passos

Procurei, sozinho, o frio. Procurei o calor. Sorri chorando e chorei sorrindo. Depois, apenas sorri e levantei. Levantei pra continuar, lembrar e me orgulhar. Levantei a cabeça. Agradeci quando me vi mais feliz. Quando me vi mais forte. Quando me vi mais eu mesmo. Esse foi o resumo dos meus últimos dias. Agora que resolvi postar aqui de novo, pensei muito sobre a maneira que estive escrevendo. Ás vezes, me sinto como uma menininha que ganhou um diário pra escrever qualquer coisa da própria cabeça. Como se todos que eu conheci antes de vir pra cá fossem amigos imaginários. Percebi que meu objetivo não é apresentar a Austrália que meus olhos têm visto. Meu objetivo é fazê-los sentir a Austrália que meu coração e minha mente têm sentido. Enfim... Mãos pro céu! Obrigado, vovô!

Poucos dias depois do triste ocorrido, conhecemos Cronulla, praia que se mantinha, até então, escondida da nossa rota, há uns trinta minutos de casa, de trem. Enquanto caminhávamos a terceira quadra até a praia, eu começava a enxergar o mar. Descendo alguns morrinhos de grama lisa, como um tapete vermelho, mas verde, se chega na praia. Alguns pinheiros enormes engrandecem o caminho. Ao canto, o point break com direitas fortes e cavadas. Fiquei em silencio, alguns minutos, observando o mar. A italiana, Elena, que mora com a gente na shared, foi junto nesse dia, para conhecer. Nessa hora, ela ria da minha cara e dos meus comentários, falando sozinho, em português, a cada parede que rolava. Contei pra ela que esperei por isso minha vida toda. Que eu não podia acreditar que realmente estava surfando nesses picos. Eu, que já me esfomeava ao olhar, dos molhes, do morro do farol ou da pontezinha do Bulldog, um bom Swell entrando, vejo tudo aqui como se eu fosse um vira-latas dentro de um açougue, sem ninguém para vigiar.
Nesse dia, já era noite quando resolvi sair do mar. E eu só saí porque, na água, plantas marinhas raspam nas pernas o tempo todo. Nunca se sabe se não é algum monstro marinho. Em Cronulla, um dos perigos do mar é o "blue ringed octopus", um polvo colorido e venenoso que se esconde de dia e, de noite, procura lugares mais rasos para se alimentar de siris e carangueijos. Nunca soube a diferença entre esses dois ultimos.


Sentado na prancha, olhando as estrelas, contei ao meu avô que dedicaria minha saideira à ele. Me afobei e entrei todo errado na onda e embiquei. Sorri: "Não, vovô. Essa não valeu. Considera a próxima." Acho que ele não se importou. Provavelmente, deu risada do meu caldo. E aí veio uma das minhas melhores esquerdas. Sei que ele nunca se abriu muito para o surf, mas sei também que ele sorria de maneira surreal quando me via realizado e feliz. Mais do que meu desempenho, dedico à ele toda a minha felicidade.
Após o surfe, enquanto comíamos, tocava um Purple Haze, do Hendrix, em pleno Mc Donalds. As loirinhas, sempre estilosas e bem produzidas, mas sem excessos, como eu já via em vídeos ou "live cams" do WCT, no estilo Laura Enever, a musa de Narrabeen do surf mundial, já caminhavam ao encontro dos bares e pubs. Em frente à um bar, um músico que tocava no violão Champagne Supernova, do Oasis, recebeu toda a minha admiração. Confesso que o som do Oasis não é dos que mais me agrada, mas a música caiu perfeitamente para fazer o meu pós surf. Justamente uma das que tocou no meu mp3 enquanto escrevia o texto anterior desse blog.
Aqui se ouve música boa por toda a parte, principalmente vinda dos músicos de rua. Nunca dei uma moeda, mas sempre faço questão de saudá-los com as mãos, sei que é a principal recompensa para um artista. Não é a toa que eles agradecem com um sorriso mais largo do que quando ganham dinheiro. Até eu já tive meus momentos nas ruas tocando uma gaitinha harmônica para ganhar uns dólares, viajando em linhas de blues. Sei como é gratificante, desde a criança que pára e fica olhando, atrasando a mãe, até o senhor bacana, que larga mais de um dólar.
Ao decorrer dos dias seguintes, Cronulla foi fazendo meus melhores surfes e pós surfes da vida, até agora. No último domingo, a boa ondulação falou mais alto na minha cabeça do que o churrasco com a turma da escola. E valeu demais... As ondas estavam grandes e fortes. Só senti, quando saí do mar, meu nariz anestesiado com o frio. Um dos vestiários de Cronulla não é coberto e permite ver a lua, as estrelas, algumas se mexendo, e as árvores ao vento. E também permite que, se alguém passar de helicóptero, te veja pelado, como disse o meu irmão.
Antes desse domingo, ainda teve o dia do arco-íris, que cruzou o céu inteiro após a chuva, como no dia 31 de Dezembro de 2011, em Torres. Esse realmente me deixou maluco. Lembrei das minhas últimas palavras para a família, no texto que escrevi antes de vir.


Certa vez, um sábio e uma criança observavam um arco-íris.
Dotado de experiência de vida, o sábio contou a criança:
“No final do arco-íris existe um tesouro!”
A criança ouviu atentamente, olhando nos olhos do sábio, e voltou a observar o lindo fenômeno da natureza. Depois de um tempo imóvel, ela respondeu:
“O que quero eu com tesouro, se aos meus olhos já foi entregue a benção do arco-íris?”
O sábio permaneceu imóvel observando o arco-íris.

Nesses últimos dias, aproveitei mais do que nunca o entardecer e o luar tocando uma viola no Rockdale Park, pertinho de casa. O lugar parece as florestas dos desenhos da Disney e, a qualquer momento, tu imagina que pode aparecer um gato maluco, te dando conselhos, em cima de uma árvore. Ali tem sido como o meu "lugar no final da rua sem saída", só que na Austrália.


Na primeira noite que estive ali, lembrei muito de uma música de uma banda moderna que eu mal conheço, mas que tocava muito no rádio quando eu voltava pra casa de T9, em Porto Alegre, e que tem uma letra bonita. Tive que tocar, exatamente como na foto, acompanhado pelo vento, as árvores e alguns passarinhos sem sono. Depois, em casa, dei uma olhada certinho na letra haha...


Lá no alto, às vezes, alguns morcegos passam voando. Mais alto ainda, aviões decolam, de 5 em 5 minutos, produzindo altos sons de turbina. Sons que me fazem lembrar as noites em Porto Alegre, que eu e o André íamos de carro até o aeroporto ouvindo Johnny Cash, sem vontade de ir à algum Hip Hop Mix Happy Fun Rehab da puta que pariu, e bebíamos uma ceva vendo os aviões decolarem.
Porra! Que amigos brother que eu arrumo. A pouco eu falava aqui pro meu irmão que eu me tornei quem eu sou, muito porque eu sempre tive os amigos certos. Não só no colégio, como na faculdade e aqui mesmo. Pessoas certas, que me libertam pra agir com a mais sincera espontaneidade. Tudo o que eu vejo, eu lembro de alguém e sinto alguma coisa boa. Apesar de ser tudo muito afude e diferente, é estranho agir como um retardado nas noites sem o João Gabriel pra agir junto, não encontrar a Grazi bebaça e rir pra caralho. Acompanhar o futebol pela internet, e nao no estadio com o Montanha e o Berna. Não posso deixar de citar aqui as palavras da Carol, depois do triste ocorrido. Ela disse: "tu é um dos únicos caras que eu conheço que sabe enfrentar essa situacao com a honra de um homem e o coração de uma criança." é uma honra pra mim saber que alguem pensa isso de mim.
Muito obrigado a todos os que me deram força. Tudo isso foi fundamental para mim.

Nas noites, a coisa mais barata que se tem pra beber é a cerveja Tooheys, do "veado", de 5 a 7 dólares. Baratinho, né? Os comerciais são bem diferentes dos das cervejas do Brasil. É engraçado porque a propaganda aqui, em geral, é agressiva, do estilo "BUZZ - LIGHT - EAR! Nao é um brinquedo que voa..." Deixo esse aí, da ceva, que é mais calmo, bem produzido e bem popular, pra quem quiser dar uma conferida:


A concentra é sempre regada a vinho, que é a coisa mais barata aqui. E, além de, na maioria das noites, só deixarem entrar se a gente tá vestido socialzinho, na entrada, tem que segurar o trago e controlar as pernas. Muito bêbado não entra, a gente já comprovou. Portanto, se voce for a Australia, NAO VA a noite desse jeito:


A música raramente passa das eletrônica, house, Hip Hop, quase sempre um "I just came to say hello", e todo mundo sabe cantar tudo. Numa das ultimas noites foi engraçado quando tocou a música do início do Rei Leão e as pessoas levantaram as mãos como se segurassem um Simba invisível.

Tá, acho que já escrevi demais. No estilo do meu amigo Rafael, de São Paulo, fã da "chocolatera quentera de só uma doleta" do 7-Eleven, em Manly, eu diria que Sydney é um puta lugar da hora, meu. Aprendi muito sobre eu mesmo com o carinho que recebi dos outros nos últimos dias, do Brasil e daqui. Lembrei como é bom aprender com os outros. Conhecer ao máximo o que é diferente.


Alguns dias atras, andei pensando se o meu cachorro vai lembrar de mim, quando eu voltar. Um dos meus maiores presentes foi ve-lo erguer as orelhas e me procurar pela casa, enquanto eu falava no Skype.
Nesses ultimos dias, percebi o quão sortudo eu sou por nem sempre ter sido o homem que teve a existência mais bela, mas por sempre ter conseguido ver beleza nas coisas mais simples e puras. Me despeço com a música mais clichê possível, mas muito significativa, da velha Blitz do Seu Mesquita.
Só na ispontainedadjjjj...

terça-feira, 17 de abril de 2012

O Maior Homem do Mundo

A Austrália é um lugar mágico. O final de semana trouxe dias ensolarados e belas emoções. Domingo a noite, após uma tarde de pequenas ondas em Manly, eu observava o mar com a prancha de surfe ao meu lado. Já era tarde e eu tinha que voltar pra city. Meus tênis e a capa da minha prancha haviam ficado na casa de um amigo de São Paulo e ele só chegaria em casa pelas 9. Sem mais opções, decidi pegar o barco e os dois trens, carregando minha prancha sem capa, de pés descalços e calça jeans. Quando senti o frio nos meus pés, na estação de trem, praticamente pude ouvir: "Celo... Nao pisa na pedra fria de pé no chão...". Nesse momento pude enxergar um pequeno menino de cabelo crespinho correndo e brincando, enquanto um senhor barrigudo o observava fumando o seu cachimbo, nos fundos de uma certa casa em Torres.
Hoje, porém, o dia amanheceu cinzento e chuvoso. Já dizia há muito tempo que o facebook é uma ferramenta perigosa por não ter limites de informação. Às vezes, nos enganamos ao absorver uma informação errada. E, ontem, antes de dormir, dei de cara com a mais triste noticia. Rezei como nunca, com todas as forças da minha ingenuidade, para que fosse apenas mais um ato de alguém mal informado, mas não era. Mais tarde, confirmei que meu querido amigo e avô realmente adormeceu pra sempre. Nesse período, enquanto nao conseguia saber se era verdade, me permiti pensar mil coisas.
Vovô Sadi era um dos mais jovens herdeiros da família Pizzolotto, construída por um esperançoso e lutador casal de imigrantes italianos, e viveu uma das mais inspiradoras historias que eu tive o prazer de conhecer. Com uma infância repleta de "artes" e situações absurdas, cresceu na pequena cidadezinha de Ajuricaba, no interior do RS. Ainda jovem, partiu em busca de seus sonhos e de sua vida. E, creio eu, que mal podia imaginar a proporção de suas futuras conquistas. Dopado de tanto estudo e, mais do que isso, da coragem e ousadia de um verdadeiro leão, venceu o concurso que lhe cedeu início para uma longa e apaixonada carreira no Banco Central.  Minha avó conta que, após a aposentadoria, ele choramingava entre lamentos por deixar seu posto. E, de fato, permaneceu ligado ao Banco até seus últimos dias. Não apenas pelo amor ao trabalho ou pelo respeito que conquistou entre os colegas, mas pela amizade. Amizade transparente e fiel que eu tanto admiro e procuro construir com meus irmãos. Mas em momentos de descontração, Seu Sadi passava longe de um homem de negócios.
Algumas vezes eu tentava imaginar o que se passava pelo seu coração. Imagino eu, que seja o maior coração do mundo, capaz de brigar incessantemente com os mais fortes para proteger quem ama, e abrir a maior carranca para os folgados dos dias de hoje. Com seu nobre romantismo, mesmo em uma celebração de negócios, pude vê-lo declarar seu amor para a vovó Jenny. "droga, vovô! Se tu fizer sempre essas coisas, não posso mais ser o fotografo nos teus eventos" reclamava eu, por ter caído em lágrimas enquanto tirava fotos de seu discurso. Nao lembro exatamente como ele disse. Mas no auge de uma grande conquista para os aposentados do Banco Central, empunhando o microfone, dedicou tudo o que tem ao companheirismo da vovó Jenny. Contou brevemente que tudo começou quando apareceu na vida daquele italianinho de Ajuricaba, uma certa coloninha de Ijuí, comovendo a todos presentes. E concordo plenamente a respeito do valor de tal elegância. Esses dias mesmo, enquanto caminhávamos pelo parque, comentei com meu irmão que a vovó é a única pessoa do mundo que eu jamais levantaria a voz, que eu tenho total respeito. Sorte tiveram ao se encontrar o homem mais bravo e pensador e a mulher mais elegante e companheira. No dia em que ouvi esse discurso, já em casa, observava as fotos que havia tirado e encontrei uma que, pra mim, é o mais perfeito trabalho que ja fiz. Aprendi que grandes homens também choram.

Quem conheceu o Seu Sadi, certamente conhece seus netos. Dos quais os feitos ele tanto falava e fazia questão de endeusar, por mais bestas que fossem. Sempre foi sensível ao observar o que os impacientes não conseguem ver. Acho que foi esse o mais precioso ensinamento que eu pude tirar da sua existência.
Há meses atras, antes da viagem, nos surpreendia com textos, de sua autoria, repletos de profundos ensinamentos. A cada semana que passava, eu sorria quando recebia um novo. Peço desculpas por nao recordar exatamente suas palavras. Sei que trouxe esse papel e está em algum lugar na minha mala, mas agora estou bem longe de casa, na frente do rio em Darlin Harbor, refugiado da chuva forte. Me marcou a frase que dizia que, ousadia, é quando o coração diz para a coragem: "VAI!", e a coragem vai mesmo. E completo dizendo que a ousadia é o que torna os momentos inesquecíveis. Ousadia que ele teve, mais do que nunca, quando abriu mão dos últimos momentos ao lado de seus netos, em prol do futuro deles. Graças a ele que estamos aqui, vivendo esse sonho.
Quando fiz 18 anos e fui votar pela primeira vez para presidente, tive dificuldade. Não conseguia encontrar em lugar algum as teclas "V" e "O". No colégio, quando tínhamos que descrever nossos avós em forma de texto, eu sempre começava a parte do Vovô Sadi com alguma coisa como: "vovô é grande, forte, gordo...". Hoje, sei que sua grandeza não era apenas física, mas vinha da nobreza, da coragem e da ousadia. Para mim não é errado nomeá-lo como "O Maior Homem do Mundo".
Algumas vezes, as pessoas nao conseguiam entender se ele realmente sabia o que estava fazendo. No final, ele ia lá e fazia com perfeição. Se ele me dissesse que se tu enterrar uma colher, vai nascer cenoura, eu provavelmente prenderia o riso. Mas quando não sobrasse nenhuma colher na gaveta, eu saberia que certamente iríamos comer muita cenoura. Na ultima vez que conversamos pelo Skype, ele disse: "o vovô, agora, vai ficar um tempo sem falar com vocês, mas não se preocupem...". E por mais que os estudos sobre a humanidade não possam confirmar, acredito nele. Acredito que esse "um tempo" pode durar uma vida inteira, mas irá chegar. E se, nesse dia, eu puder representar para alguém um quinto do que ele representa para mim, certamente eu já serei um gigante.

See you in heaven, Grandpa... R.I.P

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sentar, comer uma "berga" e pensar na vida.

Sentado de pernas de índio, comendo uma bergamota, com fones no ouvido e em silencio da fala. Quem me conhece sabe o que significa quando estou nessas condições. Penso na vida. Penso em tudo. Meu momento tão simples e mais precioso. Como eu disse lá na minha segunda pastagem nesse blog. Acho que foi a segunda, não me lembro agora. Esse é o meu momento de ficar sozinho e pensar em tudo. Isso me lembra um pouco meus dias de Famecos. Parece que faz anos que eu via as pessoas passarem no intervalo falando, conversando e dizendo. Tudo a mesma coisa. Sei que se expressar, assim que o pensamento surge na cabeça, é quase como um orgasmo pro cérebro. Concordo totalmente. Sentar um pouco sozinho e imaginar mil coisas é que é o meu Tantra. Nas jantas no galeto, às sextas feiras, minha avó costumava me olhar e dizer: "águas paradas são profundas". Ela sempre acerta em cheio. É difícil pra mim controlar meu cérebro a mil por hora, em uma sexta a noite. O raciocínio é o que torna o silencio tão sagrado. É como se fosse passear com o cachorro, só que com a imaginação e sem coleira. E quando você se ver diante de um momento realmente importante, certamente as atitudes virão. E não necessariamente em forma de palavras. A ousadia se liberta e goza da própria destreza, como o atacante driblador.
Aqui, tenho um lugar incrível dentro do apartamento. Uma sacadinha no primeiro andar do prédio. De um lado, vejo varias copas de arvores e, do outro, uma Cruz enorme e iluminada que destaca a localização de uma Igreja. Os aviões passam baixo, de vez em quando, em direção ao aeroporto e os pássaros voam fazendo seus sons estranhos o tempo todo. De noite, tenho certeza que escuto patos. Quanto mais esfria o clima, mais o pessoal que mora aqui prefere ficar lá dentro. Nessas horas, a sacada fica melhor ainda. Quando eu quero me sossegar de uma casa movimentada e de gente falando em outras línguas, venho pra cá com o violão e o cobertor e já era. Agora também tenho algumas bergamotas, que tanto me lembram o gostinho que tem o Sul do Brasil. Mas aqui elas são de ouro e custam um montão de dólares, assim como todas as outras frutas.
Hoje de manha, primeiro dia de aula pós feriado, acordei um pouco diferente. Me deu uma baita vontade de levar umas "berga" pra comer de lanche, após um café, e sentar sozinho no intervalo. Uma música não saiu da minha cabeça o dia inteiro, sendo que eu nem tenho ela no mp3, nem em nenhum lugar pra escutar aqui. Já que hoje foi um dia tao pensativo, aproveito pra mostrar um pouco do que sai da minha cabeça aqui nesse lugarzinho tão legal, perdido no meio da Austrália. A sacada de um apartamento no meio desse pedacinho de subúrbio que é Rockdale. Essa sensação estranha o dia todo? Não sei ao certo... Acho que foi alguma coisa que eu comi...

domingo, 8 de abril de 2012

Vem da base

Esses dias, na escola, estava conversando com um amigo chinês sobre o surfe em Sydney. Ele está Aprendendo a surfar e às vezes me pede algumas dicas. Nesse dia, ele me contou que sua prancha havia quebrado e perguntou se era possível concertá-la. Depois da aula, ele foi até a sala do lado e voltou com uma 6.0' amarelada embaixo do braço, arrastando o lash pelo chão. A rachadura era uns 3 palmos abaixo do bico da prancha, de um lado a outro. Eu contei que seria um pouco difícil de salvar a prancha, mas que era bem válido checar nas surf shops. Ele disse que, como pagou um preço baixo, talvez valesse mais a pena comprar uma nova. Fiquei pensando um pouco: "Bá... que azar do cara... Vai ter que parar de surfar, ja no inicio, a nao ser que compre outra prancha...". Lembrei da minha primeira prancha, la pelos meus 11, 12 anos. Era uma Tropical Brasil 5.11', com uma borda gigantesca e com o texto "sistema três quilhas", em destaque, revelando uma grande novidade. Antes de mim ela passou pelos meus primos e pelo meu irmão, chegando as minhas mãos cheia de remendos e pesando como chumbo. Mas foi uma boa prancha para começar. Lembrei das vezes que ela quebrou e sorri. Respondi ao meu amigo chinês que, se estivéssemos na minha terra, a prancha dele teria uma salvação. Meu pai a levaria até a garagem e a apoiaria em dois cavaletes de madeira. Usando resina, lixas e uma certa disposição, ele provavelmente conseguiria tornar a prancha utilizável novamente. O remendo não seria invisível e lisinho, como o das surf shops, mas seria eficiente. O chinês sorriu achando a lembrança o máximo. Pensei em como minha família me proporcionou coisas que outras pessoas não tiveram. Entre acampamentos, viagens e celebracoes de datas importantes, como eu aprendi a usar minha cabeça e manter a calma em diferentes situações.
Alguns dias depois, em uma noite, sentado na sacada, estava assistindo alguns vídeos de musicas de desenhos da Disney no iPad e pensando na vida. Por coincidência, achei o Rei Leao 3 dividido em 3 partes. Lembrei que, há anos atrás, assisti algumas cenas desse filme e achei muito legal. Resolvi assistir. E que idéia incrível que eu tive. O filme é muito engraçado e conta a história dos personagens Timao e Pumba. Assistir a história do Timao me veio como uma grande ironia que me arrancou lágrimas e sorrisos. Me vi em um momento de extrema realização por estar tão perto de mim mesmo. De conseguir olhar alem do que eu vejo. De viver o meu Hakuna Matata. Quem tiver tempo, vale dar uma conferida nos primeiros minutos dessa cena:

Mas, falando em filme, quinta-feira foi a estreia do novo American Pie, na Australia. E, é claro, que eu nao pude perder de assistir logo no primeiro dia, nem perderei de comentar um pouco aqui no blog. O filme mostra a reuniao dos antigos personagens, dos tres primeiros filmes. Na minha opiniao, nao está longe de ser o melhor da série e valeu cada centavo dos 15,90 dolares gastos para ir ao cinema, já com o desconto da carteirinha de estudante. Lembrei demais dos meus amigos, em Porto Alegre, e de toda a gurizada. De como nos identificávamos com os personagens. De todos os meus desastres e romantismos estilo Jim. Por favor, vejam esse filme e riam pra caralho! O diferente de ter visto American Pie aqui foi a reacao das pessoas no cinema. Conforme as cenas, interjeições clássicas da lingua inglesa faziam de tudo mais engracado. Eram mesclas e coros de: "Woooooow's, yeaaaah's, oh nooooo's". Nunca imaginei que existiria de fato um ultimo American Pie com os personagens dos primeiros filmes, nem que eu assistiria a estreia em Sydney. Sem palavras...

Nessa sexta, aproveitamos o primeiro dia do feriado e fomos pra Manly surfar, no fim de tarde. Na hora em que chegamos, o vento já mexia grosseiramente com as ondas, de mais ou menos um metrinho. Me impressiono como aqui, mesmo em dias com más condicoes, as ondas vem com força e duradouras. Mas enquanto elas não vêm, período que só aguentamos graças aos longs que ganhamos da mãe, na promoção da mormaii, começo a prestar a atencao em tudo em volta. As enormes arvores antes da areia da praia, os morros, a pedra com o coracao desenhado, os pássaros se alimentando e as nossas mochilas sozinhas lá na beira, que seriam pratos cheios para ladrões no Brasil. Mas o momento auge foi quando olhei para o horizonte e vi a lua cheia enorme, subindo no céu. Brilhando, quase fosforescente, refletindo uma linha prateada na água. Quando saímos do mar, já noite, algumas pessoas fotografavam aquele momento. Infelizmente, não estávamos com a câmera e não posso postar imagem nenhuma desse luar, aqui. Nessa Páscoa, não procurei cesta com ovinhos, ou pantufas em forma de cachorro, nem segui pistas ou pegadas de mentira, ou algum rato enorme no armário. Meu presente de Páscoa foi poder, lá do fundo do mar, lembrar de ver a sombra do coelhinho fazendo chocolate na lua, lá no alto, como eu gostei de admirar desde pequeno.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ai se eu te pego


Isso aconteceu a dias atras, em uma das nossas primeiras noites aqui no apartamento, mas so hoje eu fiquei sabendo da existencia desse video. Ta ai, entao, pra quem quiser dar uma conferida em mais uma doidera da viagem. Acho que da pra dar umas risadas...

sábado, 31 de março de 2012

Slow Motion Bossa Nova

São coisas novas a cada minuto, a cada segundo. É assim que se define a viagem para um país diferente pela primeira vez. Não apenas da Austrália, aqui conhecemos gente de todo o lugar do mundo. O curso de inglês na Navitas começou nessa ultima segunda feira. A escola é fantástica, com uma biblioteca com variedades absurdas de diferentes tipos de livros, filmes e pessoas. Principalmente coreanos, japoneses e chineses. Eles estão por toda a parte, sempre cumprimentando com um sorridente "how are you" e se despedindo com um "have a nice day". O sotaque chinês é o mais difícil de entender e troca letras "T" e "F" por "S". É engraçado quando o resto da turma tenta dizer o meu nome, repetindo varias vezes e fazendo força na letra "R", "from south of  Brazil". São gente muito do bem e faminta por novas influencias. Quem esperaria que o meu melhor amigo na turma seria um iraniano. Sep, é um cara engraçado demais. Não imaginava que existia um cara tipo eu no Irã. Nós costumamos rir acertando os pássaros do parque com espingardas invisíveis, se xingando em inglês e fazendo coisas sujas com a comida para as garotas nas outras mesas, no Mc Donalds. Ele me contou que, no país dele, as festas são em casa. Eles bebem álcool e interagem com as mulheres, como no Brasil, mas tem que tomar cuidado com a religião rigorosa. Se a policia chegar, ele simplesmente está morto. Me divirto observando a irritação da chilena, com os descuidados do cara russo com a casa. Ontem ela bateu nele de tanta raiva, e ele respondeu com um bom "maybe you need a beer". Acho que foi porque ele ligou o aspirador de pó pelas 5 da manhã. Os parques são incríveis, cheios de esconderijos, e despertam em mim novos sentimentos. Novos sentimentos pela música. Andei tocando alguns sons com Israel, o cara de Caxias. As vezes companho ele na gaita em reggaezinhos brasileiros ou algum samba rock. As pessoas parecem gostar. As norueguesas, por exemplo:
Esse lugar inteiro me desperta novas emoções pela música, desde a sacada do apartamento, até a beira da praia, antes de surfar, com os fones de ouvido. E, essa semana, tive o prazer de praticar algo além das minhas origens. Tudo graças a professora de inglês, Alaine, que me fez um nobre convite. Nessa sexta-feira, seria seu ultimo dia na escola da city, antes da transferencia para a escola de Bondi. Ela pediu que eu levasse o violao pra aula e tocasse alguma coisa do Brasil, como um bossa nova. É claro que eu aceitei, não nego que sentiria toda a vergonha do mundo, mas porque não, se agrada tanto a mim fazer alguém sorrir com a música? E lá fui eu pensar que musicas eu poderia tocar. Lembrei que, em um dos meus últimos dias em Porto Alegre, estava escutando alguma radio, acho que era a Itapema, enquanto tomava banho, e fui surpreendido com um nobre som de Celso Fonseca, Slow Motion Bossa Nova, que me fez sentir um aperto em deixar o Brasil. Assim foi escolhido o primeiro som. Enquanto tocava, em casa, comecei a pensar em tanta coisa, a lembrar de tanta coisa. É, sem duvida, uma linda canção. Perfeito acompanhante para Gisele Bunchen nas passarelas e comerciais, e para toda a bela mulher brasileira. Delicada, jeitosa, mas intensa. Caminhando pelas ruas com passos de um suave desfile. A outra música do estilo não poderia ser outra. Ali voltava eu a uma velha melodia que marcou varios bons momentos da minha vida. Escolhi Gatinha Manhosa, produção do rei Erasmo. Nessas horas, minha mente já agradecia pelo convite que recebi. Meu coração transbordou de boas sensações a cada segundo que eu tocava. Algumas pessoas do apartamento acompanharam de perto o meu resgate pela música brasileira. É uma grande ironia como, logo fora do Brasil, descubro o prazer de relaxar ao som de um bom bossa nova ou samba. Mais uma barreira quebrada. Essa beeem de longe. Mais cedo que eu podia esperar, já estava sentado numa cadeira em frente a toda a turma afinando o bom e velho Tagima. As cordas pesadas de blues e rock n roll, se preparavam para soar levemente. Foi só olhar para o violão e relaxar, como sempre. Só foi um pouco diferente, quando percebi que vários japas me miravam com câmeras, celulares, iphones e tamagoshis, fazendo barulhinhos de centro Pokemon. Aí eu fiquei nervoso e me perdi na letra. Mas tudo bem, o pessoal é bem legal e não se importou muito, apenas acompanhavam o compasso de sons desconhecidos para eles. No final, sem conseguir lembrar de nada mais que eu sabia tocar, encerrei com um clássico Jack Johnson. Foi um prazer pra mim receber os cumprimentos e parabéns dos colegas da turma depois da aula, inclusive de Francisco, brasileiro mais velho do que eu. Ta aí mais uma experiência totalmente inesperada que não esqueço tão cedo. E, como eu sou um cara muito legal, registrei tudo em vídeo e todo o mundo pode me ver no YouTube pagando esse mico. Acho que nao vai ser problema entender meu ingles fluente estilo Joel Santana. Bom proveito!


domingo, 25 de março de 2012

O maior sonho.

Voltando no bus cheio as 6 da tarde. Viajando em uma aula cansativa. Ficando sem nada pra fazer no trabalho. Dando uma caminhada pela rua. Pensamos na vida. Mentalizamos nossos sonhos mais profundos, nossas grandes metas, nossos mais incontrolaveis desejos. Qualquer pessoa precisa ser sozinha. E o verbo ser, não traduz um trajeto linear e constante. O ser humano precisa querer. Sem o querer, não há sonho. E o querer só revela a sua mais pura forma, quando estamos sozinhos, entre sorrisos de alma ou gritos mudos por socorro. Depois disso, o querer precisa estar ligado a liberdade, a expressão, a revolta. Entao, temos a canção gritada, a canção sussurrada, a canção gargalhada e a canção chorada. Os desenhos nas mesas do colégio, esquerdas perfeitas e cavadas, o boneco de palitinho saindo do tubo. O sol se pondo e as pessoas indo e vindo. O ideal de sonho? Não sei ao certo... Talvez um lugar. Não digo que seja o melhor lugar do mundo, mas um lugar diferente. Aprender coisas que nunca imaginaria. Conhecer lugares que jamais imaginei que existiriam. Aprender a falar de novo. Ouvir o eco do outro lado da Terra, que demora anos até chegar aos ouvidos. Agora eu posso ouvir. Extraordinário som que soa lentamente e não haverá de acabar tão cedo. O som do planeta. Fico abobado com a beleza das praias, com a organização da cidade, com a facilidade para tudo, com a força das ondas de Manly. Mas isso eu já sabia muito antes de chegar aqui. Muito mais do que isso, carrego na mente produtos de um vôo cansativo (produtos da mente, não dos free shops). Carrego o cumprimento do vendedor de coxinhas, que disse que o garrincha foi o best player do Brasil, e que o pele foi only the best scorer. Carrego as caretas e risadas da menininha australiana do barco. Das aves doidas fazendo sons estranhos e brigando pelos restos de comida nas mesas dos restaurantes, e todo mundo achando normal. Da primeira direita em Manly, rindo como uma criança. Do cara australiano no mar, que de santa, só conhecia as ondas de Florianópolis. Da caverna no morro. Do apartamento em rockdale. Dos poloneses, da Chile Girl, da italiana e do russo. De tocar ai se eu te pego a pedido de pessoas de outros países, que de música brasileira, só conhecem essa, de tocar musicas populares russas que falam coisas como "cagada". Da educação do cara da estação de trem, me ajudando com o cartão estragado. De tudo o que torna as coisas melhores do que eu imaginava que seriam. Escrevo de um lugar incrível e único, assim como o lugar de onde eu venho. Claro que com peculiaridades diferentes, mas lá eu já era muito feliz. O prazer está nas diferenças. Diferenças de opinião, de cultura, de piadas, de musicas, de ondas, de influencias. As influencias são as surpresas. Realizar um sonho? Ja ta realizado. Já estou na australia. Viver o sonho é que alimenta a bagagem ilimitada do coração e da mente. Com espaco suficiente para abrigar milhares de novas influencias, mas manter tudo o que ali ja estava intacto. Diferente, mas o mesmo. Aí se vai a primeira semana e a alegria já é imensa. Mas ainda tem um tempinho pra descobrir mais um pouco...

sábado, 17 de março de 2012

Praia, canguru e boi.

    Tá feito o blog na correria! E, por enquanto (nao sei quanto vai durar esse "enquanto"), sem layout nenhum, devido a abundância de coisas deixadas pra última hora dos últimos dias. Esse layout, por exemplo... Mas o que vale é a intenção.
    Para os que não sabem, eu, Marcelo Pizolotto, e meu irmão, Rodrigo Pizolotto, estamos partindo no dia 17 de Março (éé hoje) para Sydney. Nos planos da viagem está um bom curso de inglês de 6 meses e muito trabalho para conseguirmos "nos virar".
    As primeiras palavras do meu avô Sadi, quando ouviu sobre a nossa escolha por Sydney, foram que "na Austrália só tem praia, canguru e boi". Diz ele praia, referindo-se a imensa variedade de picos com diferentes tipos de ondas que circunda o não tão pequeno continente oceânico. Canguru, referindo-se ao animal símbolo do país. E boi, devido a criação de gado australiana de grande relevância e que atende a diferentes nichos do mercado mundial.
    Esse blog não poderia ter outro nome senão tão evidente clichê. Partimos nós então, para comprovar se, nessa tal Austrália, realmente só tem praia, canguru e boi.