Nao espere ler sobre um show amador de violão nas ruas. Estive muito tempo sem escrever e muitas coisas mudaram.
O começo foi assim. Dor nas costas, calos nas mãos e pés, dor de cabeça... Dormir de 3 a 4 horas por dia era o de menos. Quando o serviço acabava, às 20 e 45, finalmente podíamos ir para casa. Mais precisamente, podíamos subir uma lomba enorme bem rápido pra dar tempo de pegar o ônibus de uns 40, 50 minutos até Town Hall, na city, onde pegávamos um trem de uns 20 minutos até Rockdale. Chegando em casa, a mãe não estava nos esperando com strogonoff e o pessoal que morava lá parecia, muitas vezes, ter tido um dia mais estressante que o nosso. Finalmente, abriamos uma garrafa de cerveja pela liberdade. No outro dia, era acordar cedo, pegar dois trens e ir pra aula.
Meu novo trabalho nao era tão legal quanto o primeiro, mas muito mais lucrativo. O suficiente para me alimentar, morar e beber uma caixa de cerveja, é claro. Na escola St Ignatius, em Riverview, os faxineiros se dividem em grupos em cada prédio. A dupla Therry/O'Neil foi o meu destino. Meu primeiro dia de trabalho não foi apenas o dia em que eu comecei a aprender a fazer faxina na escola, mas o dia em que eu comecei a aprender a fazer faxina. Tínhamos 4 horas e 45 minutos para terminar os dois prédios de 3 andares todos os dias da semana. A rapidez era requisito fundamental. Mas será que eu esqueci alguma coisa? Ahh... Pensa depois!
Tenho que dizer aqui que, na escola, quanto a sujeira, encontrei de tudo... Desde frango na patente, até sangue na pia, o que era muito comum, já que os caras jogam Rugby, o esporte mais violento de todos, o tempo todo. Mas jamais encontrei algo tão original quanto "feijões selvagens" no ventilador...
João Gabriel, Felipe Bona, Renan, João Pedro, Bolha e todos os que estavam presentes nesse dia memorável, meu orgulho por vocês é indescritível. Abraço a todos!
Em resumo, durante a semana, a vida era bem limitada. Mas todo o sábado, quando despertava, trazia o paraíso. O trem, dessa vez, era pra Cronulla. O almoço, peixe e batata frita na frente da praia. Depois de dar um tempinho, caía no mar. E lá ficava até cansar. Ou até anoitecer. E assim fui seguindo essa rotina "no pain, no gain.".
João Gabriel, Felipe Bona, Renan, João Pedro, Bolha e todos os que estavam presentes nesse dia memorável, meu orgulho por vocês é indescritível. Abraço a todos!
Em resumo, durante a semana, a vida era bem limitada. Mas todo o sábado, quando despertava, trazia o paraíso. O trem, dessa vez, era pra Cronulla. O almoço, peixe e batata frita na frente da praia. Depois de dar um tempinho, caía no mar. E lá ficava até cansar. Ou até anoitecer. E assim fui seguindo essa rotina "no pain, no gain.".
Todo o sacrifício era em prol do surfe. O tempo livre era curto e deveria ser usado da melhor forma possivel. Nao queria saber de mais nada. Aniversários, festas ou churrascos estavam fora dos meus planos. Poucos amigos eu encontrava fora da escola e menos ainda no facebook ou skype.
Ninguém consegue ficar longe dos amigos, mas existe algo ainda mais bonito que amizade. Algo que, creio eu, ainda nao recebeu nenhuma definição falada ou escrita. Quando nos escondemos de tudo e de todos, nos achar é praticamente impossível, mas alguns acham. E esses serão sempre pessoas extraordinárias. Pessoas que nos entendem. E essas pessoas me mantiveram corajoso, confiante e tranquilo. Pessoas que nunca pensaram em me mudar, mas sim em me acompanhar às suas maneiras. E é quando se tem uma mistura de ritmos, que fluem as mais belas e originais melodias.
A parte mais difícil de viajar para um país distante é conhecer pessoas incríveis e saber que dificilmente as verá de novo quando voltar para o Brasil. O que recebemos nao é a amizade ou o amor eterno que tanto idealizamos. Ganhamos aprendizado, enriquecemos, de forma que não pensamos em mudar por uma causa maior. Acreditamos em nós mesmos e confirmamos que todos aqueles que nos julgaram loucos estavam errados.
O engraçado é que no Brasil, quando estava na praia, nao costumava ficar no mar tanto tempo quanto fico aqui. O surfe fazia parte do meu lado relaxado e despreocupado, em estado de meditação. Aqui, surfar é parte do meu cotidiano e sempre condiz com o meu estado emocional naquele momento único em que finalmente posso cair no mar. Posso estar agressivo, inquieto e faminto, ou pensativo, receoso e incerto. No final, de qualquer forma, estarei realizado e de cabeça feita.
E aí, voltamos à mais um desafio no trabalho. Dessa vez, nossa "team leader" estava de saída. Eu não acreditava muito que isso um dia aconteceria, mas eu passei a ser o líder da equipe, relatando no radio e ouvindo as broncas. Em todos os momentos, levei aquilo do meu jeito. Tentei trazer coisas simples que as pessoas reprimem para o ambiente dos dois prédios.
Um dia nossos chefes disseram que team leader tinha que ter cobrança. Se alguém esqueceu alguma coisa, tem que mandar voltar lá e fazer de novo, para que nao esqueçam mais. Aí percebi que é muito mais fácil passar despercebida uma tampa de caneta no cantinho de uma sala aos olhos de quem ta recolhendo os lixos do chão e tem que ser rápido, do que para quem está trabalhando com um aspirador de pó e fica mais tempo na sala. Disse a eles que se vissem algo esquecido, chutassem para a porta da sala. Quando o cara que recolhe o lixo estivesse varrendo o corredor, iria ver todas as coisas que esqueceu na porta de cada sala.
Lembrei também que quando eu estava nos primeiros dias, eu, ou meu team leader, esquecíamos algumas coisas que tinham que ser feitas. Para isso, escrevi um esquema com o que cada um deveria fazer a cada dia. Simples assim, nao tive muito trabalho a mais, nao esquecíamos nada e nos organizávamos no tempo. Além disso, eu nao precisava ficar enchendo o saco deles lembrando as coisas, nem eles me perguntando. É muito fácil não ser uma pessoa chata e atucanada. Mostrando respeito, se ganha respeito. E trabalhando com respeito, tudo funciona melhor. Nesse período, tive grandes amigos do meu lado e aprendi muito com eles.
Porém, tudo tem o seu limite e o meu estava para se esgotar. Estava cansado, mas nao cansado de trabalhar. Cansado da rotina e da zona de conforto. Tive o desafio de aprender a limpar alguma coisa, de ser rápido e de ser extremamente organizado fazendo aquilo, mas, depois, nada mais mudava. Acreditei que eu seria capaz de encontrar um novo trabalho e um novo desafio. Muito provavelmente mais lucrativo. Deixei o trabalho à duas semanas de acabar o curso, me presenteando com uns dias de tardes mais livres nos quais eu poderia me organizar, pensar muito sobre tudo, muitos fatos, ainda nem pude compreender direito, me dedicar a reta final do curso de inglês, surfar um pouco, é claro, e tentar encontrar um novo trabalho em Manly, para depois do curso. Isso mesmo, Manly. Agora a gente mora na praia. Em um hotelzinho rodeado de palmeiras, à uma quadra do mar.
Minha primeira noite, após a mudança, foi regada a vinho, cerveja, maresia, flores e muita música com violão e gaita. Ficamos horas nas pedras cantando e rindo. Costurando um sorriso no rosto que não sai mais. Agora sim... Tomar café na frente da praia, comer na frente da praia, ir pra aula de barco... E olha que eu ainda nem surfei. O mar tá parado que nem Bombinhas e, pra completar, quarta, enquanto corria para pegar o barco,de manhã cedo, caí um baita tombo de patinete e machuquei o quadril. Agora, tenho que esclarecer também que patinetes são mais comuns aqui na Austrália e que não, eu nao decidi comprar, eu encontrei o meu no lixo...
Se o destino me deu, nao tenho como recusar. O melhor é que ele acertou. Com o patinete, eu podia até ir para o trabalho pegando um ônibus bem mais rápido e almoçando por lá, que é um lugar muito bonito. Depois, descia uma lomba cheia de árvores praticamente só usando o freio. Às vezes, eu ria quando enxergava meu reflexo de patinete e mochila na vitrine de alguma loja.
O tombo foi bem feio. Eu estava indo muito rápido e o piso estava molhado. Umas criancinhas atravessaram a rua correndo com o pai banana atrás e entraram na minha frente. Eu tive que virar e frear. O patinete deslizou e eu caí de lado no chão. No dia, me caguei achando que tinha me quebrado e me arrependi de nao ter atropelado as crianças (brincadeira), já que o paizão delas nem teve a decência de perguntar se eu tava bem, mas agora já me sinto muito melhor.
Ontem, passei o fim de tarde sozinho nas pedras tocando uma viola. Toquei quase todas as músicas que eu já fiz e pensei muito sobre cada uma. É engraçado como a nossa cabeça pensava quando estávamos no colégio, tudo o que idealizávamos. Normalmente, o que eu escrevia nessa época falava sobre a praia ou ingênuas experiências de amor e de vida. Depois saíram algumas sobre desde abelhas na minha coca-cola, até as constelações da noite. Escrevo sobre o que me dá na cabeça, sobre o que me passa.
Sempre penso, nessas horas, sobre como eu mesmo, no passado, me sentiria em relação as coisas que eu tenho feito. Se a resposta for realizado, sei que alcancei meus objetivos e que estou no caminho certo. Ironicamente, na primeira sala que eu costumava limpar, no trabalho, o professor Mr. Story colou na parede uma pergunta para a reflexão pessoal dos alunos: "uma versao mais nova minha sentiria orgulho de mim hoje?" Nem passa pela cabeça dele, acredito eu, que seus pensamentos coincidem com os do faxineiro da escola, o qual só fala bom dia, com licença e remotas histórias sobre futebol.
As vezes, nos flagramos vivendo um mundo paralelo, dentro da nossa cabeca. E se tivéssemos decidido ficar? Talvez, estivéssemos trabalhando na nossa área e enriquecendo algum currículo ou portfólio. Talvez, estivéssemos dormindo ao lado de quem amamos e declarando nosso amor todas as noites antes que o sono nos ataque. Talvez, estivéssemos inflando peitos de orgulho. Ou talvez não... Quando fugimos pra longe, se cria um mundo paralelo na nossa cabeca, o mundo do "talvez". Ele nos mostra tudo de mais perfeito que nos poderia ser idealizado no passado. "Idealismo"...? "Perfeicao"...? Para mim isso so me remete a uma coisa... "Padroes".
Tenho certeza que se eu pudesse imaginar que viveria tudo que eu vivi na Austrália, no momento em que escrevia o primeiro texto desse blog, choraria de orgulho. Do que viver no mundo do "talvez", prefiro me aventurar na "terra" onde a resposta é "nunca"/.
As vezes, nos flagramos vivendo um mundo paralelo, dentro da nossa cabeca. E se tivéssemos decidido ficar? Talvez, estivéssemos trabalhando na nossa área e enriquecendo algum currículo ou portfólio. Talvez, estivéssemos dormindo ao lado de quem amamos e declarando nosso amor todas as noites antes que o sono nos ataque. Talvez, estivéssemos inflando peitos de orgulho. Ou talvez não... Quando fugimos pra longe, se cria um mundo paralelo na nossa cabeca, o mundo do "talvez". Ele nos mostra tudo de mais perfeito que nos poderia ser idealizado no passado. "Idealismo"...? "Perfeicao"...? Para mim isso so me remete a uma coisa... "Padroes".
Tenho certeza que se eu pudesse imaginar que viveria tudo que eu vivi na Austrália, no momento em que escrevia o primeiro texto desse blog, choraria de orgulho. Do que viver no mundo do "talvez", prefiro me aventurar na "terra" onde a resposta é "nunca"/.
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