sábado, 31 de março de 2012

Slow Motion Bossa Nova

São coisas novas a cada minuto, a cada segundo. É assim que se define a viagem para um país diferente pela primeira vez. Não apenas da Austrália, aqui conhecemos gente de todo o lugar do mundo. O curso de inglês na Navitas começou nessa ultima segunda feira. A escola é fantástica, com uma biblioteca com variedades absurdas de diferentes tipos de livros, filmes e pessoas. Principalmente coreanos, japoneses e chineses. Eles estão por toda a parte, sempre cumprimentando com um sorridente "how are you" e se despedindo com um "have a nice day". O sotaque chinês é o mais difícil de entender e troca letras "T" e "F" por "S". É engraçado quando o resto da turma tenta dizer o meu nome, repetindo varias vezes e fazendo força na letra "R", "from south of  Brazil". São gente muito do bem e faminta por novas influencias. Quem esperaria que o meu melhor amigo na turma seria um iraniano. Sep, é um cara engraçado demais. Não imaginava que existia um cara tipo eu no Irã. Nós costumamos rir acertando os pássaros do parque com espingardas invisíveis, se xingando em inglês e fazendo coisas sujas com a comida para as garotas nas outras mesas, no Mc Donalds. Ele me contou que, no país dele, as festas são em casa. Eles bebem álcool e interagem com as mulheres, como no Brasil, mas tem que tomar cuidado com a religião rigorosa. Se a policia chegar, ele simplesmente está morto. Me divirto observando a irritação da chilena, com os descuidados do cara russo com a casa. Ontem ela bateu nele de tanta raiva, e ele respondeu com um bom "maybe you need a beer". Acho que foi porque ele ligou o aspirador de pó pelas 5 da manhã. Os parques são incríveis, cheios de esconderijos, e despertam em mim novos sentimentos. Novos sentimentos pela música. Andei tocando alguns sons com Israel, o cara de Caxias. As vezes companho ele na gaita em reggaezinhos brasileiros ou algum samba rock. As pessoas parecem gostar. As norueguesas, por exemplo:
Esse lugar inteiro me desperta novas emoções pela música, desde a sacada do apartamento, até a beira da praia, antes de surfar, com os fones de ouvido. E, essa semana, tive o prazer de praticar algo além das minhas origens. Tudo graças a professora de inglês, Alaine, que me fez um nobre convite. Nessa sexta-feira, seria seu ultimo dia na escola da city, antes da transferencia para a escola de Bondi. Ela pediu que eu levasse o violao pra aula e tocasse alguma coisa do Brasil, como um bossa nova. É claro que eu aceitei, não nego que sentiria toda a vergonha do mundo, mas porque não, se agrada tanto a mim fazer alguém sorrir com a música? E lá fui eu pensar que musicas eu poderia tocar. Lembrei que, em um dos meus últimos dias em Porto Alegre, estava escutando alguma radio, acho que era a Itapema, enquanto tomava banho, e fui surpreendido com um nobre som de Celso Fonseca, Slow Motion Bossa Nova, que me fez sentir um aperto em deixar o Brasil. Assim foi escolhido o primeiro som. Enquanto tocava, em casa, comecei a pensar em tanta coisa, a lembrar de tanta coisa. É, sem duvida, uma linda canção. Perfeito acompanhante para Gisele Bunchen nas passarelas e comerciais, e para toda a bela mulher brasileira. Delicada, jeitosa, mas intensa. Caminhando pelas ruas com passos de um suave desfile. A outra música do estilo não poderia ser outra. Ali voltava eu a uma velha melodia que marcou varios bons momentos da minha vida. Escolhi Gatinha Manhosa, produção do rei Erasmo. Nessas horas, minha mente já agradecia pelo convite que recebi. Meu coração transbordou de boas sensações a cada segundo que eu tocava. Algumas pessoas do apartamento acompanharam de perto o meu resgate pela música brasileira. É uma grande ironia como, logo fora do Brasil, descubro o prazer de relaxar ao som de um bom bossa nova ou samba. Mais uma barreira quebrada. Essa beeem de longe. Mais cedo que eu podia esperar, já estava sentado numa cadeira em frente a toda a turma afinando o bom e velho Tagima. As cordas pesadas de blues e rock n roll, se preparavam para soar levemente. Foi só olhar para o violão e relaxar, como sempre. Só foi um pouco diferente, quando percebi que vários japas me miravam com câmeras, celulares, iphones e tamagoshis, fazendo barulhinhos de centro Pokemon. Aí eu fiquei nervoso e me perdi na letra. Mas tudo bem, o pessoal é bem legal e não se importou muito, apenas acompanhavam o compasso de sons desconhecidos para eles. No final, sem conseguir lembrar de nada mais que eu sabia tocar, encerrei com um clássico Jack Johnson. Foi um prazer pra mim receber os cumprimentos e parabéns dos colegas da turma depois da aula, inclusive de Francisco, brasileiro mais velho do que eu. Ta aí mais uma experiência totalmente inesperada que não esqueço tão cedo. E, como eu sou um cara muito legal, registrei tudo em vídeo e todo o mundo pode me ver no YouTube pagando esse mico. Acho que nao vai ser problema entender meu ingles fluente estilo Joel Santana. Bom proveito!


domingo, 25 de março de 2012

O maior sonho.

Voltando no bus cheio as 6 da tarde. Viajando em uma aula cansativa. Ficando sem nada pra fazer no trabalho. Dando uma caminhada pela rua. Pensamos na vida. Mentalizamos nossos sonhos mais profundos, nossas grandes metas, nossos mais incontrolaveis desejos. Qualquer pessoa precisa ser sozinha. E o verbo ser, não traduz um trajeto linear e constante. O ser humano precisa querer. Sem o querer, não há sonho. E o querer só revela a sua mais pura forma, quando estamos sozinhos, entre sorrisos de alma ou gritos mudos por socorro. Depois disso, o querer precisa estar ligado a liberdade, a expressão, a revolta. Entao, temos a canção gritada, a canção sussurrada, a canção gargalhada e a canção chorada. Os desenhos nas mesas do colégio, esquerdas perfeitas e cavadas, o boneco de palitinho saindo do tubo. O sol se pondo e as pessoas indo e vindo. O ideal de sonho? Não sei ao certo... Talvez um lugar. Não digo que seja o melhor lugar do mundo, mas um lugar diferente. Aprender coisas que nunca imaginaria. Conhecer lugares que jamais imaginei que existiriam. Aprender a falar de novo. Ouvir o eco do outro lado da Terra, que demora anos até chegar aos ouvidos. Agora eu posso ouvir. Extraordinário som que soa lentamente e não haverá de acabar tão cedo. O som do planeta. Fico abobado com a beleza das praias, com a organização da cidade, com a facilidade para tudo, com a força das ondas de Manly. Mas isso eu já sabia muito antes de chegar aqui. Muito mais do que isso, carrego na mente produtos de um vôo cansativo (produtos da mente, não dos free shops). Carrego o cumprimento do vendedor de coxinhas, que disse que o garrincha foi o best player do Brasil, e que o pele foi only the best scorer. Carrego as caretas e risadas da menininha australiana do barco. Das aves doidas fazendo sons estranhos e brigando pelos restos de comida nas mesas dos restaurantes, e todo mundo achando normal. Da primeira direita em Manly, rindo como uma criança. Do cara australiano no mar, que de santa, só conhecia as ondas de Florianópolis. Da caverna no morro. Do apartamento em rockdale. Dos poloneses, da Chile Girl, da italiana e do russo. De tocar ai se eu te pego a pedido de pessoas de outros países, que de música brasileira, só conhecem essa, de tocar musicas populares russas que falam coisas como "cagada". Da educação do cara da estação de trem, me ajudando com o cartão estragado. De tudo o que torna as coisas melhores do que eu imaginava que seriam. Escrevo de um lugar incrível e único, assim como o lugar de onde eu venho. Claro que com peculiaridades diferentes, mas lá eu já era muito feliz. O prazer está nas diferenças. Diferenças de opinião, de cultura, de piadas, de musicas, de ondas, de influencias. As influencias são as surpresas. Realizar um sonho? Ja ta realizado. Já estou na australia. Viver o sonho é que alimenta a bagagem ilimitada do coração e da mente. Com espaco suficiente para abrigar milhares de novas influencias, mas manter tudo o que ali ja estava intacto. Diferente, mas o mesmo. Aí se vai a primeira semana e a alegria já é imensa. Mas ainda tem um tempinho pra descobrir mais um pouco...

sábado, 17 de março de 2012

Praia, canguru e boi.

    Tá feito o blog na correria! E, por enquanto (nao sei quanto vai durar esse "enquanto"), sem layout nenhum, devido a abundância de coisas deixadas pra última hora dos últimos dias. Esse layout, por exemplo... Mas o que vale é a intenção.
    Para os que não sabem, eu, Marcelo Pizolotto, e meu irmão, Rodrigo Pizolotto, estamos partindo no dia 17 de Março (éé hoje) para Sydney. Nos planos da viagem está um bom curso de inglês de 6 meses e muito trabalho para conseguirmos "nos virar".
    As primeiras palavras do meu avô Sadi, quando ouviu sobre a nossa escolha por Sydney, foram que "na Austrália só tem praia, canguru e boi". Diz ele praia, referindo-se a imensa variedade de picos com diferentes tipos de ondas que circunda o não tão pequeno continente oceânico. Canguru, referindo-se ao animal símbolo do país. E boi, devido a criação de gado australiana de grande relevância e que atende a diferentes nichos do mercado mundial.
    Esse blog não poderia ter outro nome senão tão evidente clichê. Partimos nós então, para comprovar se, nessa tal Austrália, realmente só tem praia, canguru e boi.